- Sim, você precisa de atenção... precisa ter mais atenção ao seu redor!
- Para ver o quê? Que não possuo controle sobre absolutamente nada em minha vida! – as palavras explodiram de seus lábios como uma bomba de raiva e medo. – A única coisa que me parecia sob meu controle me trouxe até aqui! E só o que eu vejo ao meu redor é que mais uma vez estava errado! Eu não tenho controle algum!
O velho se levantou do sofá de veludo negro e caminhou apoiado em sua bengala de madeira por trás do sofá, em direção ao homem que pintava o quadro alheio à dramática cena no centro do salão.
- Controle é uma ilusão, garoto.
A música havia mudado novamente. A melodia agora cheia de mágoa fazia seu coração bater triste dentro de um compasso. Ele começou a perceber o poder da música daquela mulher sobre ele.
As melodias pareciam guiar suas ações como cordas guiam uma marionete.
- Acredita mesmo que seria diferente se você tivesse o controle que busca?
- Eu sei que seria. – dominado por uma enorme melancolia, ele se arrastava de volta para a poltrona negra. – Se eu pudesse escolher o rumo das coisas, livre de interferências dos outros...
- Ainda assim garoto. – o velho falava entre contidas risadas. – Não teria controle algum.
- É o que você diz, velho asqueroso. É sua palavra contra a minha.
Ele se acomodou de volta na poltrona, ajeitando as pernas sem vida. Olhou a garota ao piano, que tocava com a cabeça baixa, os cabelos cobrindo o rosto, movendo apenas os braços. Ela era a melancolia.
- Agora que você está de volta ao seu lugar, e disposto a ouvir melhor, eu lhe digo que posso provar minha palavra.
Ele olhou para o velho e descobriu surpreso que aquele era novamente o velho corcunda bem arrumado de antes, sentando-se ao sofá. A voz esganiçada permanecia.
- Ouça bem, meu pequeno suicida, pois só direi uma vez. – ele gesticulava com as mãos velhas de dedos finos, longos e nodosos. – Uma única vez.
Ele fez que sim com a cabeça e permaneceu em silêncio.
- Dar-lhe-ei uma tela em branco, muito parecida com a daquele homem quando você chegou aqui. – disse apontando o mascarado, que continuava seu ofício indiferente a tudo. - Dar-lhe-ei poder e liberdade para pintá-la como desejar. Você criará livre de influências de outros, se assim desejar. Tudo será feito à sua maneira, o tempo todo. E se ao fim, estiver satisfeito, dar-lhe-ei minhas desculpas e meu lugar.
- E se eu não aceitar?
- Não me recordo de ter mencionado opções.
A música parou.
Sem a música, pela duração de um pensamento, ele se sentiu perdido e vazio. Surpreso pelo silêncio, ele olhou para o lado do salão onde se encontrava o piano. A mulher havia abandonado seu lugar e caminhava em sua direção, desfilando como se posasse para o pintor mascarado. Caminhava com o olhar sério, fixo no jovem suicida. Seus lábios eram pequenos e muito vermelhos. Ele não conseguia deixar de fita-los.
- Tenha em mente que tudo será como você desejar. – a voz esganiçada tirou sua concentração. – Tudo será resultado de sua vontade. Tudo.
Olhava o velho sem dar atenção ao que ele dizia. Não esquecia os lábios da mulher que se aproximava. Dividido, olhava ora para a mulher, ora para o velho corcunda.
- Esqueça-o, meu amor. Você já ouviu o suficiente... – ela o envolveu em seus braços, inclinada sobre ele. – Agora somos nós. Apenas nós.
Ela aproximou seu rosto lívido cada vez mais do dele, que permanecia inerte, incapaz de afastar os olhos, pensamento e desejo dos lábios vermelhos agora tão próximos dos seus.
De olhos fechados, ela encostou seus lábios nos dele.
Quando seus lábios se tocaram ele perdeu o senso de realidade. As estrelas caiam como estrelas cadentes no céu pintado sobre o salão, os vitrais nas paredes giravam como carrosséis e ele poderia jurar que via enormes asas de mariposa atrás da mulher.
Em segundos, tudo se dissolveu em cores escuras.
As pessoas, o salão, o mundo.
...acho que estou negligenciando meu trabalho principal...
Essa cena daria um belo desenho, não?
Beijos ^^
mas e aí?? e aí?? tudo se dissolveu, e o que aconteceu depois?? pra onde todos foram? o cara volta a cair?? o cara é sugado pela tela?? o pintor era outro suicida?? a mulher do piano virou mesmo uma succubus??
ESCREVA, DESGRAÇADO!! ESCREVA COMO NUNCA ESCREVEU ANTES!!
hehe, kiddin. gostei do texto hoje. o tamanho um pouco maior não foi nada mal. take care