vae victis
um livro de Rafael Palma
quinta-feira, junho 15, 2006
from the journal of a dead man - 6

E se fez a luz.

Sentiu um impulso forte de abrir os olhos. Sem conseguir lutar mais contra ele, cedeu à força que o impelia e percebeu que o vazio se fora.

Havia apenas luz.

Contra seus olhos acostumados à escuridão, um jorro de luz branca seguido de um indescritível turbilhão de cores fez com que sua cabeça doesse de uma forma que jamais imaginou ser possível.

Quando a dor diminuiu, as cores começaram a fazer algum sentido. Um tom de azul começou a se formar em meio ao infinito e ele sentiu algo sobre sua pele.

Ele sentia o vento.

O azul se tornou mais nítido com pequenos espaços ainda brancos. O vento se tornou mais forte e o azul ainda mais nítido, revelando um fantástico céu azul com perfeitas nuvens brancas.

Havia uma lua no céu.

Uma lua incrível, sem brilho e distante, dividindo o céu azul com o sol dourado. O calor começava a chegar até ele agora que notara o grande sol. O clima parecia incrivelmente agradável, um calor morno temperado com o vento suave. Enquanto acostumava-se com sua visão e dava-se conta de seu tato, de tudo o que sentia com seu corpo como um todo, começou a perceber também os outros sentidos despertando. Sentia uma mistura de cheiros agradáveis.

Grama e terra úmida.

Seus dedos logo perceberam estar apoiados em terra e grama úmida de orvalho. Percebeu-se sentado sobre uma colina, com campos verdes brilhantes de orvalho até onde a vista alcançava. Para todos os lados, apenas verde.

Quando menos esperava, sentiu algo contra suas costas. Assustado com a sombra que se projetara sobre ele, voltou-se para trás assustado.

Estava sentado sob uma magnífica árvore.

Não havia palavras para descrever a magnitude da árvore e seus galhos, dançando ao sabor do vento, com um tronco largo o suficiente para se viver dentro dele. Ao seu lado, encostados no tronco, uma viola e uma flauta. Ambos feitos de madeira exalavam um inebriante aroma floral. A quantidade de pequenos detalhes por todo o corpo dos instrumentos era mágica.

Sentia necessidade de fazer música e não restava espaço para outra coisa em sua mente ou coração. Sentia-se compelido a escolher um deles e tocá-lo de todo o seu coração.

Mas qual deles?

...antes tarde do que nunca, não é o que dizem?