vae victis
um livro de Rafael Palma
segunda-feira, março 24, 2008
Vae Victis
Este é o primeiro post deste "novo" blog. Espero conseguir divulgar e dividir o progresso do romance Vae Victis com alguns poucos (mas extremamente queridos) leitores. Se tudo correr bem, um dia isto será algo muito maior. E eu serei uma pessoa muito mais completa.

P.S.: ...vou continuar também com o journal of a dead man. Volta e meia alguém me pede pra fazer isso e eu devo dizer que estou mesmo com saudade. Quem sabe isso vira alguma coisa...
segunda-feira, julho 10, 2006
from the journal of a dead man - 7

Sem que ele percebesse, suas mãos se estenderam e buscaram a flauta. Quando se deu conta, a levava até sua boca e já preparava os lábios para soprar. A melodia lhe era completamente estranha, mas extraordinariamente agradável. Levantou-se e caminhou de olhos fechados sob a sombra da enorme arvora às suas costas. A melodia parecia envolver todo o seu ser e mover suas pernas, independente de sua vontade.

A sensação era inexplicável.

Por onde passava erguiam-se flores, árvores e animais. Ele caminhava deixando um rastro de vida em todo seu esplendor, como se nunca houvesse sido diferente naquele lugar tão estranhamente perfeito em cor e movimento.

Nada tão perfeito foi feito para durar. – Ele ouviu ecoar no fundo de sua mente.

Não era sua voz.

O vento, vindo de lugar algum, frio e cortante como uma navalha, se chocou com força contra sua face e o despertou do inebriante estado de transe. Abriu os olhos e ergueu o braço para se proteger. Virava-se contra o vento quando viu uma pequena mariposa passar por ele, suas pequenas asas roxas batendo calmas e lentamente, como se o vento forte não a afetasse. Como se o tempo ao seu redor houvesse parado e ela não precisasse se preocupar em chegar a lugar algum.

A pequena mariposa de asas roxas o deixou para trás e ele ainda acreditava ser um delírio. Não pensava mais no vento frio que cortava sua carne ou na música que o entorpecera. O instrumento em sua mão não era mais importante e lhe parecia tão belo quanto um simples graveto. Virou-se para olhar mais uma vez a mariposa, tão leve e tão graciosa, alheia ao vento repentino e caótico.

Ela havia desaparecido.

Em seu lugar, a bela mulher do salão dos vitrais. Corria em sua direção com as mãos estendidas, em seu olhar uma inquietante súplica. Aqueles olhos extirparam de sua mente toda e qualquer forma de bem estar e ele se lembrou novamente da sensação da queda.

A queda.

Sentiu o leve toque como se o tempo passasse tão lento para ele quanto para a pequena mariposa. Via os cabelos da mulher soltos no ar como se ela estivesse submersa. Com um choque, uma forte pressão no peito, o tempo correu e o toque daquela mão tão fria se tornou um puxão em seu braço.

Ela corria e o arrastava, enquanto toda a perfeição morria em putrefatos tons de cinza atrás deles.