vae victis
um livro de Rafael Palma
segunda-feira, maio 08, 2006
from the journal of a dead man - 4

- Eu não sei ao certo. Atenção, talvez.

- Atenção? – o velho esticou os lábios em um sorriso. – Aquele homem ali está atento a cada detalhe em você, reproduzindo de forma fiel tudo o que você é. A jovem ali toca esta música apenas para você. Eu estou ouvindo o que você tem a dizer. Não lhe é suficiente?

Ele esfregou ambos os olhos com vontade. A conversa estava se tornando chata e repetitiva. Sentia-se andando em círculos e achou que deveria encerrar essa loucura, independente do que isso pudesse significar.

- Sinto muito, mas não há nada para mim aqui.

Apoiou-se nos braços da poltrona para se levantar e impulsionou o corpo para cima. Antes que pudesse perceber, estava caído no chão.

Ele não sentia mais suas pernas.

Sem entender completamente o que estava acontecendo ele puxou e balançou as pernas esperando sentir alguma coisa. Com o medo crescendo no peito, olhou para o velho na poltrona. Ele o observava com fúria nítida em sua face. Estava mais velho e deformado, com manchas pela pele e poucos fios de cabelo eriçados na cabeça oleosa.

A música se tornou inesperadamente mais rápida e angustiante. Uma melodia repetitiva que parecia interagir com o medo e as batidas de seu coração.

- Você nunca está atento, não é? – a voz esganiçada feria seus ouvidos, como se furasse seus tímpanos para invadir e ecoar em sua mente. – Não há nada aqui para você, não é? Você! Você está aqui, agora. É isso o que há aqui. Você!

...se não me cuido, isso acaba ficando pesado demais. Estava prestes a transformar a pianista em uma Succubus.
...talvez eu faça isso.
3 Comments:
Blogger Lis said...
A pianista numa succubus?

... Nossa, está indo para uma direção que não imaginei, hein...

Gostei do véio de cabeça oleosa e voz esganiçada ^^

Blogger Thaís Paiva said...
"Não há nada aqui para você, não é? Você! Você está aqui, agora. É isso o que há aqui. Você!"

de repente, tudo faz sentido. As coisas não são assim apenas no mundo do véio de cabeça oleosa e voz esganiçada; será que não é assim também nesse mundinho de merda no qual vivemos? Talvez a única coisa que ele tenha a nos oferecer de verdade seja as nossas vidas medíocres.

O humor não anda dos melhores; desculpe.

Take care.

Anonymous Anônimo said...
Hmm I love the idea behind this website, very unique.
»