- Eu não sei ao certo. Atenção, talvez.
- Atenção? – o velho esticou os lábios em um sorriso. – Aquele homem ali está atento a cada detalhe em você, reproduzindo de forma fiel tudo o que você é. A jovem ali toca esta música apenas para você. Eu estou ouvindo o que você tem a dizer. Não lhe é suficiente?
Ele esfregou ambos os olhos com vontade. A conversa estava se tornando chata e repetitiva. Sentia-se andando em círculos e achou que deveria encerrar essa loucura, independente do que isso pudesse significar.
- Sinto muito, mas não há nada para mim aqui.
Apoiou-se nos braços da poltrona para se levantar e impulsionou o corpo para cima. Antes que pudesse perceber, estava caído no chão.
Ele não sentia mais suas pernas.
Sem entender completamente o que estava acontecendo ele puxou e balançou as pernas esperando sentir alguma coisa. Com o medo crescendo no peito, olhou para o velho na poltrona. Ele o observava com fúria nítida em sua face. Estava mais velho e deformado, com manchas pela pele e poucos fios de cabelo eriçados na cabeça oleosa.
A música se tornou inesperadamente mais rápida e angustiante. Uma melodia repetitiva que parecia interagir com o medo e as batidas de seu coração.
- Você nunca está atento, não é? – a voz esganiçada feria seus ouvidos, como se furasse seus tímpanos para invadir e ecoar em sua mente. – Não há nada aqui para você, não é? Você! Você está aqui, agora. É isso o que há aqui. Você!
...se não me cuido, isso acaba ficando pesado demais. Estava prestes a transformar a pianista em uma Succubus.
... Nossa, está indo para uma direção que não imaginei, hein...
Gostei do véio de cabeça oleosa e voz esganiçada ^^
de repente, tudo faz sentido. As coisas não são assim apenas no mundo do véio de cabeça oleosa e voz esganiçada; será que não é assim também nesse mundinho de merda no qual vivemos? Talvez a única coisa que ele tenha a nos oferecer de verdade seja as nossas vidas medíocres.
O humor não anda dos melhores; desculpe.
Take care.
»